A ausência de exemplos vivos diante da inteligência artificial é um desafio para o desenvolvimento humano. Embora a IA ofereça informações precisas, acessíveis e até interações simuladas com grande sofisticação, ela não substitui algo fundamental: a vivência relacional com pessoas reais. Essa discussão que vem tomando lugar no debate sobre as tecnologias atuais e acendendo um alerta para profissionais de saúde mental.

Desde a infância, não é apenas o que nos dizem que importa, mas o que vemos, sentimos e admiramos nos outros. Aprendemos valores e comportamentos não só por instrução, mas pelo exemplo — por gestos, reações, escolhas e presenças que nos inspiram. E isso a inteligência artificial não pode oferecer. Ela pode responder, orientar, sugerir, mas não vive. E sem vida, não há testemunho, nem vínculo emocional real.

Na prática clínica e nos estudos em psiquiatria, sabemos que o desenvolvimento saudável depende da capacidade de criar laços, de se identificar com figuras significativas, de ser tocado pela experiência do outro. A IA, por mais avançada que seja, carece dessa dimensão afetiva, orgânica e imperfeita — justamente a que mais ensina.

Essa lacuna levanta questões urgentes: como preservar a formação afetiva e ética em um mundo cada vez mais mediado por inteligências não humanas? Como garantir que a presença de pessoas reais continue sendo central nos processos de aprendizagem e amadurecimento? Por mais úteis que sejam as tecnologias, seguimos aprendendo com quem vive — e não apenas com quem responde.