Na perspectiva da saúde mental, o perdão pode ser compreendido como um processo psíquico de liberação emocional, essencial para a redução do sofrimento e o fortalecimento da resiliência. Existem quatro grandes objetos de perdão que, quando não elaborados, podem manter o sujeito preso a estados crônicos de angústia, culpa e ressentimento.

O primeiro são os pais. Mesmo quando houveram falhas ou ausências, é importante reconhecer que eles também foram atravessados por suas próprias limitações emocionais, sociais e históricas. Perdoar os pais não significa negar o impacto das suas falhas, mas deixar de alimentar rancores que já não servem ao nosso crescimento. Em muitos casos, esse passo é fundamental para quebrar ciclos de repetição e construir relações mais saudáveis.

O segundo são os antigos amores. Relações que se encerraram, especialmente de forma dolorosa, podem deixar marcas profundas. Quando o término não é aceito ou continuamente revivido, o sujeito tende a permanecer emocionalmente vinculado ao passado. Perdoar aqui é também aceitar que houve um fim e permitir-se seguir adiante, sem idealizações ou tentativas de reabrir vínculos que já não existem.

O terceiro grupo envolve amigos, conhecidos e até estranhos — pessoas que nos feriram ou decepcionaram ao longo da vida. A tendência de esperar reparações ou pedidos de desculpa pode aprisionar o sujeito em uma espera emocional exaustiva. Perdoar essas pessoas é recuperar o próprio poder psíquico, deixando de depender do reconhecimento do outro para reorganizar o próprio mundo interno.

Por fim, o mais complexo dos perdões: o perdão a si mesmo. Erros, escolhas impensadas ou atitudes das quais nos arrependemos costumam gerar culpa crônica. No entanto, esperar por uma versão ideal de si para “merecer” perdão só prolonga o sofrimento. A autocompaixão é parte essencial do processo terapêutico. Perdoar-se é reconhecer a própria humanidade e permitir-se recomeçar.

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