A minissérie Adolescência, da Netflix, vai além do suspense em torno de um crime cometido por um adolescente de 13 anos. Ela nos convida a refletir sobre a estrutura emocional que estamos (ou não) oferecendo aos jovens de hoje. Jamie Miller, o protagonista acusado de assassinar uma colega, torna-se um espelho perturbador de uma geração exposta à solidão emocional, à falta de escuta e à ausência de suporte genuíno. Enquanto a trama investiga o que aconteceu com Jamie, a verdadeira pergunta parece ser: o que está acontecendo com todos nós?

A série não se limita a explorar a mente de um adolescente em crise, mas revela as falhas de uma sociedade que exige equilíbrio de quem nunca o recebeu. Professores impotentes, pais desorientados e colegas mais prontos para julgar do que para ajudar compõem um ambiente onde o abandono emocional é regra, não exceção. Espera-se maturidade e autocontrole de jovens que crescem cercados por adultos emocionalmente ausentes. Como exigir empatia de quem nunca foi acolhido?

A dor dos pais que não sabem quem são seus filhos, a escola que percebe, mas não age, e os adolescentes que vivem em um mundo prestes a desabar — todos esses elementos representam partes de uma sociedade que, ao invés de proteger, falha em oferecer os alicerces emocionais mínimos. A série não busca apontar um culpado específico, mas denunciar um sistema inteiro que falha na base. Em vez de buscar o diagnóstico de Jamie, a pergunta urgente é: onde estávamos quando ele mais precisou?

Adolescência é, antes de tudo, um alerta. Uma provocação para que deixemos de terceirizar responsabilidades e passemos a encarar de frente o papel que cada um de nós desempenha na formação emocional das novas gerações.