Vivemos em uma era em que a pergunta “do que você gosta?” parece simples, mas esconde uma complexidade crescente. No cenário atual, em que plataformas como Instagram, TikTok e Pinterest moldam comportamentos, estilos e até emoções, é legítimo se perguntar: ainda sabemos do que realmente gostamos ou estamos apenas reproduzindo tendências desenhadas por algoritmos?
Do ponto de vista da saúde mental e da psiquiatria, essa reflexão não é superficial. O esvaziamento da autenticidade, impulsionado pela constante exposição a conteúdos repetitivos e idealizados, pode afetar diretamente o senso de identidade, autoestima e bem-estar psíquico. Quando a estética vira repetição e a originalidade se transforma em performance, cria-se um ambiente em que ser diferente parece errado — ou, no mínimo, desvantajoso.
A ascensão das chamadas “microidentidades”, tendências temporárias que oferecem uma aparência de pertencimento e estilo, pode funcionar como uma forma de anestesia emocional. Elas preenchem o vazio momentaneamente, mas não oferecem raízes para a construção de uma identidade sólida. Em consultórios psiquiátricos, é cada vez mais comum ouvir relatos de angústia, ansiedade e sensação de desconexão com o próprio eu — muitas vezes agravados pela comparação constante e pela pressão por se encaixar no molde da vez.
A psiquiatria moderna reconhece que o excesso de exposição a padrões estéticos e comportamentais massificados pode ser um gatilho para transtornos, sobretudo em públicos vulneráveis como adolescentes e jovens adultos. Nesses casos, a prevenção passa também por recuperar a capacidade de escuta interna: silenciar, mesmo que por instantes, o ruído das plataformas e se perguntar com sinceridade o que se deseja, o que se sente, o que se é — e não apenas o que se parece ser.